Grande parte das nossas rotinas
sedimentaram-se na nossa vida por nos serem úteis, por nos servirem e
nos facilitarem a quantidade de coisas que fazemos. Sentimo-nos
confortáveis a fazer aquilo que sempre fizemos, aquilo que nos é fácil,
que fazemos sem ter que prestar atenção. Podemos chamar a este processo,
os nossos hábitos instituídos. Até aqui, tudo muito bem! Mas,
se alguns desses hábitos passaram a não ser adequados, prejudicam-nos,
incapacitam-nos ou impedem de sentirmo-nos bem, de sermos apreciados
pelos outros, de sermos aceites em sociedade, ou nos impedem de atingir
os nossos sonhos e objetivos? Se nos toldaram a criatividade, a perspicácia, a vontade de aprender, de olhar a vida por outras perspectivas e alternativas?
Os nossos hábitos instituídos podem passar a ser a nossa maior dor de cabeça.
Habituámo-nos a eles por um processo de repetição até chegarmos ao
ponto de julgarmos que nós somos mesmo assim, que isso faz parte da
nossa personalidade. Mas, nada poderia estar mais errado. Só julga ser
assim porque fechou a janela das possibilidades, das alternativas, da
consciência, de pensar acerca das coisas, das suas coisas, daquilo que
quer e que não quer. Se continuarmos a percorrer os trilhos da vida num
estado “adormecido”, muito provavelmente iremos atingir um ponto de
cristalização do nosso pensamento, perdemos a flexibilidade de
pensamento e criamos uma inclinação mental desadequada.
Vejamos o seguinte exemplo: Digamos que uma pessoa com uma inclinação mental
para o pessimismo levantou-se num sábado de manhã e colocou na sua
ideia que tinha de arrumar e limpar a garagem. Dirige-se à garagem, abre
a porta e fica chocado por ver a quantidade de lixo e desarrumação.
“Esquece isso” Diz o pessimista no maior dos lamentos. “Ninguém
conseguiria limpar esta garagem num só dia!” Perante esta situação e num
estado mental de incapacidade, fecha a porta da garagem e volta para
outra divisão da casa para fazer outra coisa qualquer.
Os pessimistas têm um pensamento de
“tudo ou nada”. Têm um pensamento catastrófico e absolutista. Ou fazem
as coisas de forma perfeita ou não fazem. Vejamos como é que o otimista
enfrentaria o mesmo problema. Vamos assumir que até dizia a mesma coisa:
“Esquece isso”. Ninguém conseguiria limpar esta garagem num só dia!” No
entanto, uma grande diferença entre o pessimista e otimista saltaria à
vista. Ao invés de voltar para casa, o otimista continuaria a pensar.
“Pronto, não consigo limpar toda a garagem, mas ainda assim, o que é
que eu posso fazer?” Ele pensa durante um pouco, e tem a ideia de
dividir a garagem em 4 secções e limpar apenas uma nesse dia. “De
certeza que consigo limpar uma secção, e se limpar uma parte por semana,
certamente até ao final do mês consigo limpar toda a garagem”. Ao fim
de um mês os cenários serão diferentes: O pessimista terá a garagem numa
desgraça e o otimista uma garagem limpa.
O Sabotador Interno
O pessimista tem uma inclinação mental
para pensar de forma desanimada ou que não consegue fazer nada, que as
coisas não valem a pena, desiste de pensar positivo muito rapidamente.
Na grande maioria da vezes o pessimista é um desistente crónico, foca-se
nos piores cenários e não acredita que as coisas possam dar certo. A
estes aspetos negativos do programa mental do pessimista podemos chamar
de sabotador interno. É um sistema auto perpetuador de conexões
entre as células cerebrais, uma presença neurológica que parece ser tão
intrínseca a nós, que normalmente não temos consciência da sua
influência. O sabotador interno é uma consequência da forma como você pensa acerca das coisas. Pode ser muito difícil desaprender aquilo que aprendeu e julga ser parte de você, mas é possível.
Sabemos que um músculo se desenvolve
através do esforço repetido. Se você deixar de o usar, se parar de o
exercitar, as conexões entre as células musculares irão enfraquecer.
Assim, acontecerá com os vários aspectos da sua inclinação mental, do
seu sabotador interno. Assim que você o identificar, e inibir essas
ideias e comportamentos, as conexões entre as células cerebrais irão
diminuir, perdendo a sua força, enfraquecendo a sua inclinação mental
pessimista.
Especialização Neuronal
O nosso cérebro especializa-se através
de um processo de repetição de comportamentos, através do reforço de
grupos de redes neuronais. Na infância à medida que vamos enfrentando os
desafios e dificuldades da vida, vamos colocando em ação algumas
formas de lidar com as situações. Algumas destas estratégias funcionam e
são retidas. O sabotador interno nasceu.
Por exemplo, se uma criança é
criticada pelos seus pais, a estratégia de lidar com a situação pode ser
agir “erradamente” dado que esta é a única forma da situação lhe fazer
sentido. Ela irá desenvolver comportamentos “errados” para dar razão aos
seus pais. Uma criança que é ignorada pode achar que só terá atenção
quando está doente, assim, a doença, queixas somáticas ou pequenos
acidentes tornar-se-ão num mecanismo de enfrentamento inconsciente. A criança “aprendeu” a ser um falhado, aceitar a crítica e a ter relacionamentos sem apoio.
Estas estratégias, até podem ter funcionado na infância para diminuir a
fúria da mãe, mas certamente serão disfuncionais na fase adulta. A dura
realidade, é que estas estratégias tornaram-se a sua “especialização”
desenvolvida para lidar com um conjunto particular de circunstâncias.
Se registássemos uma possível lista dos
comportamentos auto sabotadores desenvolvidos através dos mecanismos de
lidar com as situações, ficaria algo do género:
- “Eu assumo que vou falhar, por isso não tento.”
- “Eu comporto-me como se nada de bom me aconteça.”
- “Eu dificilmente confiarei em alguém.”
- “Eu critico os outros e acho que os outros me criticam.”
- “Eu acho difícil fazer amigos.”
- “Eu rejeito as pessoas que são boas para mim ou que me tentam ajudar.”
- “Eu evito confrontar-me com situações em que as pessoas me possam julgar.”
Este é apenas um exemplo como o nosso
sabotador interno se desenvolve. Estas especializações infelizmente não
se ficam apenas pela infância, podem sedimentar-se em qualquer altura da
nossa vida. Tal como esta criança, também nós nascemos com a capacidade
para aprender um conjunto quase ilimitado de respostas comportamentais.
Importa referir, que a especialização neuronal formada pelas nossas
reações a situações sobre as quais não temos controlo, limita-nos
severamente as nossas opções.
Valor do Pensamento Positivo
Para testemunhar uma das mais profundas
ilustrações da efetividade prática do otimismo na história da América,
você tem de relembra-se do filme, Apollo 13, ou então
visioná-lo. Para além do trabalho de trazerem os astronautas do outro
lado da lua ter sido assustador e esmagador, o desafio foi realizado em
pequenas tarefas de cada vez. As pessoas que estavam no controlo da
missão em Houston e que salvaram os astronautas, conseguiram esse feito
extraordinário porque mesmo perante a “impossibilidade” dos problemas
tecnológicos, eles continuaram a pensar positivo. Eles nunca desistiram.
Procuraram por soluções parciais, e declaram que iriam agarrar-se a
essas soluções parciais e trazer os seus homens em segurança para casa.
Dica: Sempre que você se sinta pessimista ou oprimido, relembre-se para continuar a pensar positivo. Continue a pensar, continue a pensar positivo.
De acordo com a abordagem da psicologia positiva,
pensar positivo não se resume de forma alguma apenas a afirmações
positivas ou de capacidade. Estas podem formar a base da intenção
daquilo que se quer e pretende que aconteça. Mas, provavelmente
a estratégia que mais conta, é a estruturação de um encadeamento de
ações que suportadas pelas afirmações irão expressar as forças,
valores, objetivos e crenças adaptativas da pessoa ou grupo de pessoas. As pessoas que pensam de forma otimista, capacitada e positiva, escolhem fazer um uso diferente da imaginação humana. A imaginação que cada um de nós possui deveria ser usada, não para fugir à realidade, mas para a criar.
Não hesite em pensar, não hesite em
pensar positivo. Não se deixe levar pelos caminhos vincados
(inadequados) da sua mente. Desperte, acorde, fuja à rotina da sua
inclinação mental para a desistência. Resista à sua paragem de
pensamento para a solução, insista na busca de possibilidades e caminhos
alternativos, persista na reestruturação do seu pensamento positivo.
Jacqueline Moraes
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