quinta-feira, abril 24, 2014

Souvenir

 
Para quem viaja, é muito comum deparar-se com a questão “como é o povo tal?” ou “como as pessoas agem em determinado país?”.
Infelizmente, é normal ouvir respostas sobre essas perguntas. Há quem use a experiência de ter estado em um lugar para singularizar comportamentos e atitudes.
Reduzir um país, uma cultura e suas pessoas a uma experiência é tão grave equívoco quanto acreditar que o hino representa a totalidade de suas histórias. A generalização possui o mesmo gene do preconceito. Falsas verdades são criadas pela irresponsabilidade de visões reduzidas a categorizações.
Viver uma viagem é exatamente o oposto. É possível livrar-se da cadeia invisível de comportamento coletivo e observar, plenamente, as individualidades em ação – ou reação. A observação, por si, desobstrui as portas que o julgamento teima em fechar.
Sair da rotina, esquecer horários, padrões e etiquetas. Viajar permite negar o óbvio e navegar por entre e além dos estereótipos mais rasos.
Ao compartilhar uma experiência cultural, deveria se prestar o máximo cuidado para não tornar o fato uma verdade, nem doar às opiniões os trajes do indiscutível.
O discurso preguiçoso busca auxílio em jargões. No entanto, é preciso estar ciente que qualquer tradição é egoísta: sua existência depende da insistência em contar as mesmas histórias.
Por mais que a convivência seja, em inúmeras vezes, através de interações com instituições, a essência de qualquer relação está no contato humano.
Países são pessoas. Estados são pessoas. Culturas são pessoas. São elas que importam. Isto é, apesar dos hábitos praticados por grupos, na raiz mais íntima de cada um há a potência inata de fazer existir sua individualidade.
Mesmo com toda semelhança, nenhum entendimento tem poder de verdade.
 
Jacqueline Moraes

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