Após seis anos de sua estreia, resolvi assistir o filme Into The Wild. Relutei em vê-lo por motivos desconhecidos e me arrependo por isso. Este é o tipo de filme que deve ser visto de tempos em tempos, para reflexão. Com aproximadamente duas horas e vinte minutos de duração, a história relata a vida do recém-formado Christopher McCandless e é uma verdadeira lição de vida. Dirigido pelo também ator e produtor Sean Penn, o material serve como uma chacoalhada para qualquer um que o assista.
O filme, baseado no livro que tem o mesmo título, expõe a vida de McCandless. O estudante, nascido em berço de ouro, porém imerso em brigas e infelicidade, resolve deixar o diploma e a família para trás (além de pouco mais de 24 mil dólares doados a uma instituição de caridade) e seguir seu sonho: viver fora dos padrões da sociedade. No auge de sua juventude, ele abandona seu carro, queima o resto do dinheiro restante e, com uma mochila nas costas, segue por algumas cidades dos Estados Unidos e México em sua jornada para o Alasca. Em uma junção simbólica de palavras, Christopher muda sua identidade para Alex Supertramp – tendo numa tradução grosseira o sobrenome “super vagabundo” –, conhece diferentes estilos de vida, dedica-se a anotar seus sentimentos, lista diferentes coisas aprendidas durante a jornada e aprende viver sem a necessidade ou dependência do dinheiro – e do consumo exacerbado de produtos listados pela sociedade como “indispensáveis para sua felicidade”.
Casa cheia, filhos perfeitos, carro do ano… Inúmeras são as imposições da sociedade a fim de nos mostrar o verdadeiro “caminho” para a felicidade plena. Porém, existe um pequeno detalhe durante esse trajeto, o qual muitos esquecem de enxergar: o próprio caminho. Como Supertramp, muitos são os que dizem sentir desprezo pelas regras impostas pela sociedade, porém, na hora de tirar proveito das facilidades, o fazem sem lembrar dos valores. A diferença do jovem de 23 anos da história foi a audácia e coragem de seguir à risca seus ideais. Ele deixa o conforto e segurança e se arrisca entre caronas, dormidas em sua barraca de acampamento e em uma Kombi abandonada a qual ele nomeia de Ônibus Mágico. O jovem aprende que a felicidade encontra-se nos momentos mais simples da vida e, em um desfecho emocionante, ele lista sua última descoberta: a felicidade só se torna real quando compartilhada. Compartilhada não significa exposta, para provocar inveja alheia – apenas um adendo.
E esse erro começa na infância. Enchemos nossos filhos – sobrinhos, afilhados – de presentes no Dia das Crianças, Natal, aniversário ou qualquer outra data comemorativa que incite a troca de presentes materiais. Compramos o brinquedo mais caro a fim de ver a felicidade estampada em seus rostos. Na adolescência, os enchemos de viagens, festas, roupas e perfumes caros. Pagamos a escolar mais cara, o curso de inglês renomado e exigimos que eles andem com gente “bem-apessoada”. Faculdade cara, carro do ano… E durante esses, pelo menos, 22 anos, esquecemos, em meio a tanto trabalho e obrigações, de dar o básico: um real ensino. A importância de mandar uma cartinha aos avós dizendo o quanto os ama; tirar fotos com os amigos (e não autorretrato para postar em rede social) e revelá-las, para mais na frente sentir naquela imagem a felicidade que foi aquele momento; respeitar e exercitar a paciência no momento de discordância entre você e seus pais ou irmãos. Esse é o segredo da felicidade – o que me faz pensar que seja o segredo da vida.
Enfim, de volta ao filme. Interpretado por Emile Hirsch, a obra exala riqueza cultural entre gerações em cada personagem. Estimula o espectador a refletir sobre valores, por mais que não queira. Cada discurso elaborado, com suaves pinceladas de grandes filósofos comoDavid Thoreau e Leo Tolstoy, torna-se pura psicanálise. Não só Hirsch, mas todo o elenco esbanja simplicidade e beleza, diferente das grandes películas Hollywoodianas. Não sou especialista no assunto, mas não posso deixar de falar sobre alguns aspectos reveladores do filme, como a ótima fotografia. Cada imagem, cada paisagem torna-se mais deslumbrante à junção da trilha sonora que, por sinal, cai como uma luva em cada pedacinho do filme. A trilha é assinada pelo vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, que magnificamente traduz em poesia o encaixe perfeito para o enredo do longa. Um trabalho no mínimo tocante, onde expõe a paixão do homem pelo simples, pela natureza e nos põe a repensar sobre nossas prioridades na vida.Totalmente obrigatório e, acima de tudo, inspirador.
Just remember: “Hapiness is only real when shared”.