quarta-feira, novembro 13, 2013

Dar um tempo

Dar um tempo é perder tempo. Covardia da boca, frase do medo. Decisão indecisa, contradição da vontade. Tentativa de conformar sem confortar. Dar um tempo é sentir pena de machucar quem deixamos de amar. É o fim abreviado. Injeção letal com anestesia. Dar um tempo é a vergonha do brio, escudo transparente do verdadeiro desejo.
Quem pede um tempo, não quer admitir que o ciclo encerrou, pelo menos de forma unilateral. E aí, não há o que fazer. Não se ama por dois. Ao pedir um tempo, a necessidade é de se afastar. Ledo engano. A proximidade é que poderá consertar o que se quebrou. Dar um tempo é abrir espaço para o conveniente, para dormir em outras camas, para pensar na vida. Se você precisa pensar longe da pessoa com quem você está, sinto em dizer que não há mais o que pensar.
Quem ouve “Precisamos de um tempo”, se sente como um analfabeto emocional. Como é difícil entender palavras tão claras. É uma briga do ouvido com a razão. A primeira reação é a ilusão de que não passa de um tempo. Tempo que acaba. Tempo que não volta mais. Somente com tempo, entendemos o que o tempo quer dizer.
Durante o tempo solicitado, vivemos presos num limbo sentimental. Ficamos perdidos, sem saber verdadeiramente as regras desse novo jogo. Posso ir à uma festa? Tenho que avisá-lo? E se eu ficar com alguém? Azar, ele deve estar fazendo o mesmo. E se ele estiver só pensando? E se me ligar amanhã? Vou encontrar algum conhecido dele? Quer saber, eu mesma vou terminar. Mas e se ele quiser voltar? É um tempo que não tem fim.
Lógico que o tempo pode ajudar algumas relações, especialmente quando ocorrer de forma mútua. Por vezes é preciso repensar a situação a dois, mas não há melhor forma do que fazer isso juntos. Geralmente, quando um pede o tempo, já não há mais espaço para dois. A união tornou-se individual. É uma tentativa de respirar no sufoco das brigas, desentendimentos diários, ou até mesmo na falta de sentimento. Ninguém é culpado por deixar de amar, mas a sinceridade é sempre a melhor saída. A melhor forma de sair.
Dar um tempo pressupõe uma abertura do relacionamento que apenas um compactua. O outro aceita. Na fraqueza, o casal volta. Em seguida, a conversa do tempo volta à tona. A saudade não é mais da pele e sim das divergências, do corpo como uma mobília que faz falta na sala. É um precedente para um vai-e-vem sem fim, até o basta final.
Dar um tempo é perder tempo. Ao dar um tempo, o fim já começou.

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