sábado, setembro 29, 2012

Festa ao contrário





O que foi esse final de semana?
      Eu andando de skate as 8 da manhã, ou conseguindo acertar a manobra que eu queria e quase não caindo até chegar lá. Foi o que eu não comi no almoço de sábado? Foi uma saudade que eu não tive ou foi trocada por desejo? Foram as perambulações por entre os velhos moveis nas horas vagas antes do sol se pôr? Fui busca-las mal sabendo o que seria da noite.
      Eram nove e meia e todos riam, eu a lhe explicar partes da loucura do meu mundo. Rodamos por corredores de arroz, bebida e lixo procurando decidir qual seria a janta.alguém chacoalhava um flã ou um pudim qualquer, rimos por isso também. Estava decidido; Seria pizza.alguém quis iogurte, achei graça, tinha alguém entrando efetivamente em minha vida. As mulheres foram ao banheiro, elas sempre vão. Eu me sentia confortável com os amigos naquele lugar, qualquer proposta pareceria irrecusável. A noite cigana me pareceu medíocre em vista de andar sem destino pelas ruas ao lado das almas mais sinceras com as quais eu convivia. O plano era enrolar, perder o ônibus. Nunca gostei de baladas, o barulho, a doação dos corpos sem o devido dialogo das almas, somados à novidade e a distancia, tudo isso me impelia a acomodar-me por ali. Pensando bem eu perdera muito por todo o comodismo. Eu precisava me entregar às novidades, curtir a profundidade sincera de uma boa e valiosa alma, e todas aquelas eu conhecia bem, exceto uma.
      Elas saíram do banheiro - passaram um bom tempo fotografando e sorrindo lá dentro (-). Do lado de fora eu lia a pior espécie de classificados que existe e obviamente ria dos anúncios medíocres.
      Andamos até a pizzaria e após alguma escolha pedimos 3 redondas de um lugar que batizamos de ‘pizza de cremo gema’ devido ao aspecto e ao sabor do pseudo catupiry que eles aplicavam sobre a massa.
      A nova namorada do meu melhor amigo precisou de cigarros, então os dois saíram, um tempo se passou e meu outro amigo e sua respectiva namorada foram na busca dos dois primeiros. Restavamos eu, minha irmã e aquela loira(que havia cortado o próprio cabelo e o colorido num tom quase negro) da qual eu mal podia conter a ansiedade de estar a sós com ela, eu tava doido pra curti-la.
Depois de vinte minutos eu já não sabia se meus amigos demoravam pra achar os cigarros ou se era pra que eu perdesse o ônibus. Pra mim tanto faz – pensei - ... se eu ficar por aqui vai ser difícil me aproximar e curtir aquela garota como eu gostaria. Decidi pegar o ônibus e viver tudo aquilo. A pizza chegara, as garotas ansiosas abriram as caixas,com os dedos a loira tirava uma fatia da de frango. Não havia nojo em tocar sem talheres o alimento, ela era pura classe mastigando sem derrubar aquele esfarelado recheio, não que eu ligasse pra isso, mas gostei de olhar, eu tava gostando de tudo e isso era meio raro. Olhei pro lado, não queria estragar tudo,meus amigos vinham aos pares, um de cada lado da rua.
      Serviram-se,comi, todos tinham fome, em menos de vinte minutos tudo não passava de guardanapos e copos sujos empilhados em meio a caixas de papelão vazias.
Por um segundo me lembrei dos meus tempos na pizzaria, empresa da família, naturalmente desgastante com mais o bônus das risadas falsas, criticas descomedidas e redondas gratuitas. Os blues de madrugada e os pães pela manhã faziam a coisa ser suportável, mesmo vivendo sem honorários.
 
Andávamos de braços dados, despedi-me dos meus tendo a estranha certeza de que aquela noite ficaria marcada em minhas retinas, a alegria e a loucura de tudo aquilo eram mágicas, subimos no ônibus. Ela estava usando uma linda saia preta com uma espécie de terninho por sobre uma regata rosa e sapato de salto, quase caiu ao descer do ônibus, àquela não era a primeira vez e nem seria a mais prazerosa.
 Entramos no trem, logo descemos e pegamos outro. Ventava um bocado onde saímos. Eu já estivera lá, era na Vergueiro e um violinista arranhava as cordas fazendo o instrumento miar como um gato fértil, isso não importava, ele não tava lá dessa vez, estávamos do lado (dos números) par(es), atravessamos descendo pela escada rolante que ela mencionou em subir, caímos numa paralela, junto a um terminal de ônibus, enquanto passávamos por ele agarrei sua cintura com firmeza, seu corpo se apertou contra o meu ao transpor o meio-fio. Eu fui inacreditavelmente besta, estava feliz pelos pés de veludo desfilarem suaves e ligeiros ao meu lado. Experimentei suas mãos, agora cobertas de negras luvas, enlaçaram-se às minhas. Haha, que romantismo barato eu assumia!!! De um carro se insinuou um daqueles sujeitos medíocres que precisam expor a potência dos seus alto-falantes para se afirmar e se afogam em bebidas baratas como desculpa para serem completamente autênticos e bizarros. Andávamos intransigentes, impassíveis, eu de terno, colete e chapéu, elas se sublimando deslizavam.
      Damas primeiro;
- nome na lista ou vestido à caráter?
- os dois, qual for mais barato
- Latino até a alma – disse-me entregando o papel com o valor da entrada
- foda-se; teu cú – pensei alto
      Cadastro, revista, que merda!pra que tanta foda? Burocracia ridícula. Não preciso de arma pra foder alguém. Precisava querer muito vestido assim.
      Cada pedaço de parede era ocupado por recortes de jornal com fotos de atores e artistas mortos ou decadentes e havia um filme em rolo porcamente desenhado e objetos antigos e quebrados com pintura e polimento refeitos. Adjetivos: tranqueira; porcarias; quinquilharias de um sebo vagabundo. Sob a cabine do DJ havia um espelho voltado para a pista. Tinha um palco e cortinas vermelhas escondendo rebuscados candelabros inutilizados. Tudo muito gay e delicado pro meu gosto, desisti de olhar, aquilo me chateava.
      Sentamos numa espécie de palco, voltei meus olhos pra ela, e agora ela tava com a regata e aquele pingente de nota em colcheia pendia para dentro e para fora daquele decote. A musica era ruim mas a casa tava vazia, e eu já sabia o tempo e o tom que conduziriam a nossa noite. Pedi uma cerveja, esperei que trouxessem, bebi com calma olhando quem estivesse por lá. Terminei, me inclinei em seu ouvido e lhe propus algo. Nunca soube dançar e agora aqueles inacreditáveis olhos verdes saltitavam em minha frente. Eu tinha que cuidar dela. Ela me movia.
      No começo meus passos eram puro receio, eu agradecia profundamente por ela ter trocado o chinelo que expunha seus dedos tingidos de vermelho, ela o tinha trocado por um sapato de salto negro aveludado do qual eu só lembrei devido a ridícula estampa de onça que cobria parte do forro interno. O batom vermelho sobre aqueles delicados e firmes lábios me agradava muito mais. Deixem-me dizer que sempre desgostei de maquiagem em geral, sua principal função é mascarar. E eu odeio mascaras, odeio ilusões, coisas que geram sentimentos falsos. Por outro lado aprendi a gostar dos esmaltes de cores solidas, gostava especialmente das mãos disfarçadas de vermelho vivo e gostava ainda mais quando pedaços de realidade eram expostos através das lascas de esmalte faltando. Quem sabe por ter vivido uns Blues eu tinha predileção por azul. O tom usado das unhas era claro e brilhante como tudo que gritava vindo dela.
      Dancei ganhando fôlego e ousando mais em cada musica. Ela me experimentava. Eu não sabia onde pôr os braços, e isso foi mais ou menos quando ela começou a girar. A maneira como nossos olhos se encontravam nos dava segurança e um pouco de certeza.
      Ela tinha apenas bebericado um drink. Não demorou muito pra que ela caísse após um de seus maravilhosos giros. Um pouco da certeza que me cabia dizia que seu corpo se segurando e apertando conta o meu não eram simples efeito da bebida. Nossos corpos a se encontrar ganhavam força, e seus abraços me ensinaram bem onde eu devia brincar com as mãos, as vezes parávamos numa troca de faixa tentando entender qual era a ligação de uma musica com a outra, tentamos entender o que nos tocaria, tanto faz o que ligava duas beats não tão diferentes, agora fluíamos juntos e leves, não imaginávamos o nosso futuro, apenas curtíamos aquele momento, duas almas flertando, pura e simplesmente através das coisas mais simples e verdadeiras que conheço: gestos, cheiros, sentimentos, a batida dos nossos corações se transformando em passos e se esculpindo em nós mesmos, nossos corpos rindo, transavamos através de olhares, como janelas escancaradas externando a doce fúria de nossas sonoras almas.
      Apesar da péssima sobreposição ao longo da quase-sofrivel trilha musical nós dois sobreviveríamos a essa noite, sairíamos juntos dela.
Paramos, era justo com nossos músculos. Seus pés doíam devido aos pulos que eu a fizera dar. Descalçou os sapatos, não antes sem irmos ao bar, e ela secou a garrafa num gole só – da mesma maneira como queimávamos nossas almas: numa só noite, de uma só vez. Voltamos à beira do palco caminhando de mãos dadas através da multidão. Mesmo parados eu conseguia ver seu interior fervilhar sem deixar perder o ritmo um instante sequer. Mas esse não era simplesmente o ritmo da musica, aquilo a se agitar freneticamente dentro dela, e a saltar pelo olhar, era simplesmente o ritmo intenso e sublime daquela saborosa alma. Naquele momento percebi que havia achado uma ser capaz de curtir sem sofrer. Alguém que tinha capacidade de olhar pra trás e não morrer de culpa nem orgulho, mas que sempre viveu com a essência das coisas... seu andar tinha substancia, classe, vindo principalmente disso. Era tudo incrível, eu simplesmente precisava daquilo.
A essa altura um tipo alto, meio viado, com uma camisa ridícula e dois talhos na barba que mereciam uma marca de sangue tragava icônica e plasticamente um daqueles finos cigarros light. Garotas desgastadas logo apareceram vestindo caricatos trajes numa tentativa forçosa de representar um cabaré, e bem, aquilo parecia um bordel, todas as coisas desnecessária estavam lá, as putas também. A tentativa de impor um sentimento tão fake sem notar a solida e massiva mediocridade real daquilo tudo. Ao meu lado a moça se comportava como um gato: impassível, curioso, intransigente; enquanto a plasticidade do caráter humano se deflagrava diante de nós. A pornô-chanchada se movia em direção ao balcão, escapando-me aos olhos, enfim alivio. A gatinha ao meu lado esticava o pescoço, apontando o queixo para os espaços vagos entre as cabeças amontoadas, erguia-se na ponta dos pés. Passei o par de sapatos para a mesma mão que segurava a bebida, abaixei e lhe envolvi as coxas com o braço livre, ergui. Era firme, leve, cheirosa, o peito se apertando contra a minha cara. Era isso. Foi muito mais. Eu precisava daquela boca. Agora eu desejava inversamente que a patifaria demorasse a terminar. Não demorou mais dois minutos. Tive que solta-la... eu nunca quis.
Fomos pro bar, minha irmã se sentou de costa pra nós, algo acontecia no palco novamente, a gata pisou com um pé no descanso do banco da minha irmã,apoiou-se com as mãos no balcão debruçando-se para trás, eu tava perto, muito perto, seu braço me enredava no pescoço, escorava aquele perfeito quadril em meu peito. Aquilo me fisgou, acho que foi isso, dizem que um peixe fisgado perde um pouco o sentido. Dessa vez durou mais que dois minutos. Eu gostei (se fosse justo usar esse verbo do passado pra descrever algo que ainda estou sentindo) dela. Tava tudo espetacular, àquele abraço fez valer a noite. Foi confortante, a força dela não conflitava com a minha, toda energia se casava. Eu precisava ser completamente sincero, mesmo no turbilhão confuso de tudo que eu sentia... de todas essas novidades pelas quais eu não esperei, mesmo há anos por mim desejada... no fundo você se prepara e faz planos mas nunca sabe ao certo exatamente como agir. Fui sincero mesmo com toda a complexidade que é externar sentimentos em palavras e gestos. Ela também tinha algo a dizer; nos beijamos.
A força daquilo tudo não acabava, ela me surpreendia de novo, deixava claro a magia do incomum. As coisas aconteceram e fomos pra onde não esperávamos. Contei um pouco da insanidade que reside em mim, ela também tinha as dela, olhávamos no fundo dos olhos mal acreditando no que acontecia, sentamos na calçada pra compartilhar a inocência e as vagas, mas fundamentais, percepções de nossas almas. Conversamos por horas entre as folhas e o asfalto que irão ficar marcados em mim. O tempo fugia mas nós insistíamos em dançar a vida naquele ritmo alucinado, sentíamo-nos  bem, aliviados. As palavras são sempre poucas pra explicar tanto sentimento, tanta coisa. Por isso te escrevo, tentando te mostrar um pouco do que não foi dito.

domingo, setembro 23, 2012

A era da modernidade


Hoje logo pela manhã, resolvi arrumar algumas caixas e encontrei uma folha, meio rasgada mesmo tirada de uma antiga agenda de anos atras, e estava escrito um médio texto um pensamento de momento que resolvi escrever e engraçado como em dois anos eu não mudei essa idéia que tenho do mundo. Resolvi então compartilhar com vocês o texto original, apesar que eu adoraria modificar algumas palavras e deixa-las com mais ênfase.


22/06/10 às 2:08 a.m.


" Sei lá, estou pensando em fazer algo fora do comum da nova era, a sociedade do século XXI. Pensar em comunicação, interagilidade, conexão, modernidade : enfim palavras da Era Virtual, será mesmo que com tantas fontes de comunicação como as Redes Sociais, as pessoas estão juntas entre si? ou sera que com tanta facilidade e tecnologia não estão fazendo elas se retrairem ao inves de se juntarem?

Cade aquela tarde de "chá " com as amigas, ou um simples "oi" passando pela calçada de algum conheçido, amigo.
Os cartões postais de pessoas queridas que mandam durante alguma viagem e contando como estão, ao inves de um simples inbox ou fotos sendo publicadas a cada cardápio do almoço ou jantar.
O romantismo de uma serenata, ao invés de frases e textos escritos numa pagina virtual onde não é apenas pra você, e sim compartilhado para o mundo; a qual você le com um fundo vazio, sem aquele poder magico de olhar nos olhos de seu(a) amado(a) naquele momento tão cativante, tocante.
Os passeios pelas praças, o caminhar no final da tarde, o aroma da manhã ao abrir a janela e poder ver o sol esbelto dizendo"hello".
Onde esta tudo isso?
A modernidade veio para facilitar a vida das pessoas, porém é tanta coisa, tanta novidade, tanta tecnologia e informação, que não temos tempo para pensar em o que realmente é importante e acaba afastando cada vez mais das pessoas, e o pior nós de nós mesmos.
Estamos em uma Era a qual, não existe mais as conversas e festas em família, aquele momento em frente da Tv a qual todos se reuniam ao final do dia e riam juntos, ou simplesmente se emocionam com mais um capítulo de uma novela, roteiro que não mostrava a vingança o odio ou cenas fortes.
São tantas escolhas que hoje podemos fazer, marcas, roupas, lugares, pessoas, comidas; coisas que te fazem bem, mas mesmo assim não é o bastante para causar aquele impacto de satisfação.
Porque hoje nem nós mesmos nós conheçemos, é muitas culturas, muita informação a qual queremos e precisamos experimentar todas para descobrimos quem realmente somos.
Não se prenda tanto ao cubo da tecnologia. INOVE, surpreenda e acima de tudo seja você mesmo aonde quer que esteja, afinal cada um é único da maneira que escolhe."
                                                                                                               Jacqueline Moraes